Flash Boys

Flash Boys

Flash Boys conta como operadores com acesso ultrarrápido às cotações das bolsas dos Estados Unidos tinham/têm vantagens sobre os investidores comuns e como um grupo de competentes profissionais estava disposto a trazer mais integridade ao mercado.

Flash Boys é um livro de não-ficção de Michael Lewis, autor que já teve as obras Moneyball e A Jogada do Século (filme A Grande Aposta) adaptadas para o cinema. Ele introduz como funciona o universo do HFT (High Frequency Trading), em que a vantagem está na velocidade das negociações. Qualquer milissegundo (um segundo dividido por 1.000), microssegundo (um segundo dividido por 1.000.000) ou até nanossegundo (um segundo dividido por 1.000.000.000) é valioso.

Para contar essa história, Lewis usa personagens que realmente atuaram/atuam no mercado norte-americano. Então, para não estragar a narrativa, escolhi para esta resenha alguns assuntos que me chamaram a atenção no livro.

Por que a velocidade importa?

Segundo o autor, nos Estados Unidos, antes de 2007 ainda era possível observar operadores negociando ações e outros ativos em um ambiente físico, no chamado pregão viva-voz. A rapidez das negociações acontecia de acordo com o limite dessas pessoas.

Agora que as negociações em bolsas são eletrônicas, esse limite está principalmente na velocidade com que um sinal eletrônico viaja do computador do operador ou operadora ao centro de processamento de uma bolsa.

Como há vantagens em obter a cotação de uma ação ou outro ativo antes de outros participantes do mercado, é compreensível que muitos traders e operadores HFT estejam dispostos a pagar caro por formas de acesso mais velozes às bolsas.

Acompanhe este exemplo.

Diferentemente do Brasil, nos EUA há diversas bolsas de valores (até a publicação deste post eram 13 bolsas principais). Para se ter uma ideia, lá é possível comprar ações em uma e vender em outra.

Então, suponha que você pudesse pagar uma taxa às bolsas para que elas te dessem acesso à variação do preço das ações da Empresa XYZ antes que isso fosse divulgado aos outros operadores.

Mesmo que essa antecipação aconteça em uma fração de segundo, é tempo suficiente para um software identificar a demanda de um investidor por ações da Empresa XYZ na Bolsa A, comprar as ações dessa empresa por um preço inferior na Bolsa B e vendê-las com lucro para o nosso investidor na Bolsa A.

Acontece que esse tipo de coisa não é apenas suposição. Aliás, o autor explica que a atuação de operadores de alta frequência foi um dos motivos para o aumento da volatilidade no mercado americano após a Crise de 2008.

Na época, a influência dos HFTs no mercado ainda não era evidente, mas os investidores já sentiam como a alta volatilidade os atrapalhava a comprar ou vender lotes grandes de uma só vez.

Foi a partir de preocupações como essa que os chamados dark pools passaram a ganhar mais relevância.

O que são os dark pools?

Dark pools são como bolsas privadas criadas por bancos e corretoras, mas com regras nem um pouco transparentes. Só mesmo a instituição saberia dizer quais ordens — e de quem — ela permitia acontecer dentro do seu dark pool.

Considere que um cliente de uma corretora queira vender 10.000 ações da empresa XYZ e que outro cliente queira comprar 10.000 ações dessa mesma empresa. De acordo com o autor, se essa corretora tiver um dark pool, ela pode combinar essas ordens e não pagar taxas à bolsa por essa operação.

Assim, se um importante fundo ou investidor quisesse vender um lote significativo de ações, poderia usar um dark pool para que o público geral não tivesse acesso a essa informação como teria acompanhando as ordens em uma bolsa pública (Bolsa de Nova York, Nasdaq etc.).

O mercado eventualmente ficaria sabendo das transações, mas com atraso, já que os dark pools não informam o que acontece neles em tempo real. Então, a princípio, os operadores HFT não conseguiriam tirar vantagem do fato de um grande player demonstrar interesse em negociar um grande lote.

Porém, para alguns bancos e corretoras, vender o acesso aos seus dark pools para firmas especializadas em fornecer dados a operadores de alta frequência era uma possibilidade.

Os procedimentos dos operadores HFT e a presença deles nos dark pools eram fatores que o mercado praticamente desconhecia, mas que começaram a ficar mais evidentes a partir do Flash Crash.

O que foi o Flash Crash?

O termo Crash é bastante utilizado para se referir a uma queda intensa no preço de algum ativo. No caso do Flash Crash de 6 de maio de 2010, em questão de minutos e sem motivo aparente, houve um forte baque no preço de diversas ações.

O evento recebeu o nome de Flash Crash (algo como queda instantânea) justamente devido à rapidez com que aconteceu. Aliás, também foi uma questão de minutos para que os preços retornassem mais ou menos ao patamar em que estavam antes de caírem tanto.

Para você ter uma noção, o Índice Dow Jones chegou a cair 9% nesse dia, mas retornou em seguida. Outro exemplo impressionante foi o preço das ações de Procter & Gamble (P&G), que teve uma queda de 37%, mas também voltou logo depois.

Gráfico em que podemos ver o quanto o preço da ação de Procter & Gamble (P&G) variou no dia do Flash Crash de 2010, em comparação a outros dias do mesmo ano.

Essa situação acendeu um alerta para os investidores. Eles estavam curiosos para entender o que motivou esse crash, mas as explicações dos órgãos oficiais não pareciam satisfatórias.

Nesse meio tempo, algumas pessoas estavam estudando se — e de que maneira — firmas de HFT, operadores de alta frequência, bolsas, bancos e corretoras estavam explorando certas brechas e injustiças de Wall Street.

Flash Boys é sobre essas pessoas, sua jornada para conhecer as particularidades do mercado americano e o objetivo em comum de criar um ambiente mais honesto de negociação.


Considero o livro indicado para quem já tem um conhecimento mínimo sobre operações em bolsa de valores e queira começar a entender o mundo do HFT. Lewis consegue esclarecer um assunto complexo sem exagerar nas tecnicidades — ele explica aquilo que é preciso explicar.

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