O Padrão Bitcoin

O Padrão Bitcoin

Mais que um livro sobre a principal das criptomoedas, a obra de Saifedean Ammous descreve a história do dinheiro e a trajetória humana em busca de prosperidade e liberdade.

Se você ainda não leu O Padrão Bitcoin (The Bitcoin Standard), pode ser que tenha pensado que o livro vai discutir os aspectos técnicos do criptoativo e que só será proveitoso para quem entende de computação, Internet, criptografia, etc.

No entanto, como o autor diz

Da mesma maneira que um livro sobre o padrão-ouro não discutirá as propriedades químicas do ouro, este capítulo não se aprofundará nos detalhes técnicos da operação da rede Bitcoin, concentrando-se nas propriedades monetárias da moeda bitcoin.

Apesar de haver detalhes técnicos em algumas partes, esse não é o foco. A ideia central é mostrar como o Bitcoin tem o potencial de ser uma moeda forte como o ouro já foi, protegendo o patrimônio de quem possui esse ativo.

Então o que temos é uma verdadeira jornada pela história do dinheiro, cujos destaques você confere a seguir!

Funções elementares do dinheiro

Para começar, nada melhor que entender o que é dinheiro.

Na história já tivemos todo o tipo de coisa funcionando como dinheiro, desde sal, gado, conchas, pedras até moedas de prata, moedas de ouro e cédulas de papel.

E o que permitia que esses bens fossem usados para comprar outros produtos e serviços? Eles eram capazes de desempenhar estas três funções:

1. Meio de troca

Em economias pequenas, o escambo (troca de um bem por outro, como um par de sapatos por cinco galinhas) pode até funcionar, mas em arranjos maiores isso causa transtornos como o problema da coincidência de desejos.

Essa situação acontece, por exemplo, quando uma pessoa tem garrafas de vidro e quer trocar por roupas, mas quem tem roupas para oferecer não quer receber garrafas em troca.

Há soluções para isso, mas a mais eficiente é que a sociedade concorde em usar um ou alguns poucos meios de troca como moedas de ouro, o real, o dólar, o euro etc.

2. Reserva de valor

Pense numa época em que não havia geladeira e suponha que um grupo inventasse de usar leite como dinheiro. O que iria acontecer?

Os membros desse grupo dificilmente conseguiriam juntar muito dinheiro porque depois de alguns dias o leite simplesmente iria estragar e evidentemente não teria valor nenhum.

Quando falamos que o dinheiro deve servir como reserva de valor, significa que o dinheiro que você recebe hoje continuará “funcionando” no futuro.

3. Unidade de conta

A função de unidade de conta tem a ver com a primeira função que vimos. Com um meio de troca estabelecido, os produtos e serviços podem ser todos precificados na mesma unidade. Assim fica mais fácil medir quanto as coisas valem.

Moeda forte e moeda fraca

Agora que temos uma boa noção dos propósitos principais do dinheiro, vamos ver o que determina se uma moeda é forte ou fraca.

Imagine que você vive em um lugar em que o sal é usado como moeda. Estamos falando de muitos séculos atrás, então produzir sal não é um processo simples.

Em outras palavras, podemos dizer que o fluxo de produção de sal é pequeno em relação ao estoque existente (aquilo que já foi produzido de sal menos o que já foi destruído ou consumido). Se essa proporção for mantida, maiores serão as chances de o sal manter valor ao longo do tempo.

Porém, considere que os produtores locais de sal tenham encontrado uma maneira mais produtiva de extração de sal. Seguindo o princípio de que quando a oferta supera a demanda os preços tendem a cair, o que teremos muito provavelmente será a desvalorização do sal.

Dessa forma, ele terá se transformado em uma moeda fraca.

De forma bem resumida: se for difícil aumentar a oferta de uma moeda, chamamos ela de moeda forte. Se for muito fácil aumentar a oferta da moeda, temos uma moeda fraca.

Ouro como dinheiro

Com a evolução da sociedade, novas formas de dinheiro surgiram com metais como ouro, prata e cobre. Eram bens duráveis e podiam ser cunhados em moedas, constituindo valor em pequenas unidades, facilitando o transporte e as trocas.

Enquanto as moedas de ouro carregavam muito valor em poucos gramas, as moedas de prata tinham um valor menor por unidade de peso, servindo assim para trocas menores. As moedas de cobre tinham valor ainda menor.

Mas por que o ouro era tão valioso e continua até hoje? Há vários motivos, mas um deles é sua baixa taxa de oferta.

Isso quer dizer que o estoque existente se mantém muito maior que a produção anual. Segundo consta no livro, nas últimas sete décadas a produção anual de ouro não ultrapassou 2% do estoque existente.

Como vimos na seção anterior, isso é uma importante característica de moeda forte, que de acordo com o autor é um fator fundamental para a prosperidade da civilização.

Vamos pegar o Império Romano como exemplo. Em certo ponto os imperadores começaram a praticar o recorte de moedas: coleta das moedas existentes para cunhagem de novas moedas com mesmo valor nominal mas menos ouro ou prata.

Ao desvalorizar a sua moeda o governo poderia aliviar suas despesas e poderia gastar mais com o que bem entendesse, inclusive guerras e projetos irresponsáveis. O resultado: inflação e crises econômicas que mais tarde contribuiriam para o declínio do império.

Por outro lado, cidades que não desvalorizavam sua moeda e respeitavam as contas — prezavam pela responsabilidade fiscal e monetária —, aproveitaram épocas de florescimento como Constantinopla mais ou menos entre os séculos XI e XV e Florença mais ou menos entre os séculos XIII e XIV.

Dinheiro de papel e o padrão-ouro

Mais tarde, conforme os bancos, as comunicações (telégrafo) e os transportes (trens) se desenvolviam, notas e outros tipos de papel passaram a funcionar como dinheiro. Podiam ser trocados por metais preciosos mantidos em cofres e eram muito mais leves e fáceis de carregar.

Assim, se uma nação decidisse que seu dinheiro de papel seria resgatável em ouro, que nada mais era que o lastro por trás das notas, ela estaria no chamado padrão-ouro.

A Grã-Bretanha foi a primeira a adota esse padrão em 1717. Aos poucos, outros países europeus fariam o mesmo e no século XIX praticamente o mundo todo estaria no padrão-ouro.

Sob o padrão-ouro, o dinheiro de papel/dinheiro do governo/dinheiro fiduciário efetivamente era ouro e o governo não tinha como controlar a oferta de ouro (não é possível criar toneladas de ouro do nada).

Porém, os países fora eliminando o padrão-ouro, o que significava que o dinheiro fiduciário passaria a ser não resgatável. Ou seja, não seria possível trocar notas por ouro. Dessa forma, o governo poderia emitir dinheiro como bem entendesse.

Segundo o autor, nenhuma moeda fiduciária atual existe sem algum tipo de lastro. Portanto, todos os bancos centrais guardam alguma quantidade de ouro ou moeda estrangeira que por sua vez tem lastro em ouro. A questão é que as pessoas já não podem mais resgatar ouro usando o dinheiro emitido pelos bancos centrais.

Portanto, já que o dinheiro governamental pode facilmente ter sua oferta aumentada comparada ao estoque existente, poderíamos classificá-lo como moeda fraca?

Fim do padrão-ouro

A partir de 1914, ano em que começou a Primeira Guerra Mundial, o padrão-ouro global se encaminhava para o fim. E isso não foi coincidência.

Ao acabar com a resgatabilidade do ouro, os governos não se limitariam ao dinheiro que tinham em seus cofres, mas poderiam bancar a guerra ao desvalorizar a moeda. Na prática, estavam tirando a riqueza da população via inflação para financiar conflitos.

Assim, tivemos uma transição do padrão-ouro para um padrão marcado por várias moedas governamentais. Saímos de uma forma de dinheiro escolhida pelo mercado para o dinheiro imposto.

O mais triste é que perdura até hoje a noção de que quanto maior o gasto do governo, melhor para a economia. Que emitir mais moeda sem restrições não tem problema.

Isso faz parte da visão de John Maynard Keynes da economia, cujas ideias Saifedean Ammous faz questão de desmentir consistentemente ao longo do livro.

Sem falar que hoje em dia muitos bancos centrais mantém as taxas de juros nos seus respectivos países artificialmente baixas com o pretexto de aumentar o consumo, estimular empréstimos para investimentos em novos projetos e coisas do tipo. Como o objetivo é motivar gastos no curto prazo para aquecer a economia, o hábito de poupar acaba ficando esquecido.

Bitcoin e liberdade monetária

Diante desse contexto, que aliás também vimos por outro ponto de vista na resenha de Bitcoin: a moeda na era digital, o Bitcoin surge como uma solução para diversos problemas.

Um deles é transferir valor a longas distâncias sem depender de intermediários como bancos ou operadoras de cartão de crédito para validar esse tipo de transação, que normalmente é demorada e burocrática.

O Bitcoin é construído com 100% de verificação e 0% de confiança.

Além disso, ele não pode ser inflacionado. No momento, existe cerca de 18,8 milhões de unidades de bitcoin e ainda é possível produzir mais da criptomoeda (quem faz esse trabalho é conhecido como minerador), mas a oferta está limitada a 21 milhões de bitcoins.

Outro aspecto importante do Bitcoin é a liberdade que ele proporciona. As pessoas podem fazer trocas com quem quiserem, sem precisar da permissão de terceiros. Sem contar que suas características de moeda forte proporcional boa aceitabilidade em praticamente qualquer lugar do mundo (se você viajar para a Noruega e quiser comprar algo de um estranho, é mais provável que ele aceite vender em reais ou em bitcoins?).


Enfim, a maior dúvida que fica, pelo menos para mim, é se o Bitcoin conseguirá cumprir todas as funções do dinheiro. Sua adesão mundial ainda é tímida e a alta volatilidade dificulta seu uso como unidade de conta, mas não há dúvidas que ele funciona como meio de troca e que há usuários que adquirem bitcoins para fazer uma reserva de valor.

Será que um dia viveremos sob um Padrão-Bitcoin? Está aí um evento que eu adoraria presenciar!

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