Bitcoin: a moeda na era digital

Bitcoin: a moeda na era digital

Bitcoin: a moeda na era digital é uma ótima leitura para esclarecer que o Bitcoin não é apenas um ativo especulativo. Vale a pena entender o contexto em que ele foi proposto e como esse dinheiro digital e as tecnologias inovadoras que suportam seu funcionamento podem representar uma verdadeira revolução.

A maior parte dos livros resenhados no Leituras do Trader tem relação com a bolsa de valores, mas achei que estava na hora de falar de uma classe de ativos que também pode ser importante para os traders: as criptomoedas.

Por isso, escolhi um livro introdutório sobre Bitcoin, escrito pelo Fernando Ulrich, mestre em economia e referência sobre o assunto. Consulte o canal do Ulrich no YouTube para mais conteúdos sobre o tema.

A obra dá um panorama sobre o que o Bitcoin representa, como ele funciona e o seu potencial transformador. Nesse caminho, o autor também discute a ocorrência de crises, explica o que de fato vem a ser uma moeda e expõe conceitos interessantes como escassez, reserva de valor e liberdade monetária.

Vejamos, então, os principais aprendizados.

O que é o Bitcoin?

Na introdução, Fernando Ulrich deixa claro que definir o que é Bitcoin não é fácil, mas no apêndice do livro, ele lista 10 maneiras de explicar o que é essa criptomoeda. Fazendo ligeiras alterações às palavras do autor, uma definição seria:

Bitcoin é uma espécie de dinheiro digital que não depende de governos ou corporações e cujo valor é determinado pelos indivíduos. As transações ocorrem pela internet — o que quer dizer que os envolvidos podem estar até mesmo em continentes diferentes —, por meio de uma forma de pagamento rápida, segura e de baixo custo.

Para um entendimento mais profundo sobre o seu funcionamento, requer conhecimentos sobre termos mais técnicos como código aberto, redes peer-to-peer, criptografia e blockchain.

O que é o problema do gasto duplo?

Usando sistemas de pagamento no dia a dia, podemos não perceber, mas bancos e outras instituições financeiras atuam como intermediários para validar as transações.

Imagine que Alice tenha 100 reais em conta. Se Alice envia 100 reais a Bob, há uma entidade que verifica que Alice tem 100 reais disponíveis, e que terá 100 reais a menos assim que Bob receber esses 100 reais.

Sem essa entidade, teríamos uma enorme confusão. Poderia acontecer de Bob receber os 100 reais de Alice mas Alice não ter os 100 reais debitados de sua conta, o que permitiria a Alice enviar mais 100 reais a Charlie.

Por incrível que pareça, o Bitcoin consegue resolver esse problema do gasto duplo sem a necessidade de uma entidade reguladora. Ou melhor dizendo: o sistema conta com uma rede de usuários (computadores), e essa própria rede se encarrega de validar as transações.

É por isso que dizemos que o Bitcoin tem uma natureza descentralizada.

Mas se não existe uma entidade reguladora da criptomoeda, qual é o incentivo para esses computadores validarem as transações?

Explicando de forma muito simplificada, o protocolo do Bitcoin determina que, para processar as transações, os computadores precisam resolver problemas matemáticos cuja complexidade vai aumentando com o tempo. Assim, conseguem encadear as transações em blocos de dados que compõem a chamada blockchain.

Esses computadores recebem uma taxa de serviço e uma certa quantidade de bitcoins que são criados na sequência. E pelo fato de eles “extraírem” bitcoins nesse processo, chamamos esses usuários de mineradores.

Aliás, é assim que novos bitcoins são emitidos e continuarão a ser criados até a rede alcançar o limite de 21 milhões de bitcoins. Esse foi o máximo de bitcoins estipulado por Satoshi Nakamoto, o programador (ou grupo de programadores) de identidade desconhecida que inventou o Bitcoin.

Em qual contexto o Bitcoin foi proposto?

Satoshi Nakamoto propôs o sistema do Bitcoin oficialmente com o paper Bitcoin: a Peer-to-Peer Electronic Cash System, disponibilizado em 31 de outubro de 2008.

Algumas semanas antes disso, em setembro, a falência do banco americano Lehman Brothers representava um marco da Crise de 2008 (Crise do Subprime).

Fernando Ulrich descreve que podemos explicar essa e outras crises do ponto de vista da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. De forma resumida, o que temos é o seguinte:

  1. Banco central do país reduz os juros artificialmente.
  2. O sistema bancário pode emprestar dinheiro a taxas atrativas (inclusive dinheiro que ele não tem).
  3. Fica fácil ter acesso ao crédito (expansão de crédito) — aparentemente o sistema bancário tem ampla disponibilidade de recursos reais, mas na verdade não tem.
  4. Pessoas pegam dinheiro emprestado para criar ou aprimorar negócios.
  5. Empresários desenvolvem novos projetos com expectativas de lucratividade futura (já que os juros estão baixos, o esperado seria que os consumidores tivessem dinheiro poupado, o que significa que poderiam comprar ou investir).
  6. Podemos ver uma aparente prosperidade econômica (boom).
  7. Muitos projetos dos empresários que pegaram dinheiro emprestado não dão lucro, já que não há recursos suficientes na economia (o certo seria o sistema bancário disponibilizar para empréstimo o dinheiro que ele realmente tem — essencialmente, a quantia que poupadores colocam no banco em busca de remuneração, num momento anterior de juros mais altos, por exemplo —, mas não foi isso que vimos no item 2).
  8. A estrutura produtiva fica desequilibrada e começam a surgir os primeiros sinais de crise.

Como Ulrich deixa claro, o paper não dá muitos indícios sobre a ideologia de Satoshi Nakamoto, mas discussões no fórum de criptografia do qual ele participava e uma mensagem gravada na primeira transação na rede Bitcoin — executada pelo próprio Nakamoto — ajudam a dar uma ideia.

A mensagem em questão fazia referência à manchete do jornal britânico The Times, do dia 3 de janeiro de 2009:

The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks

Traduzindo, seria algo como: Chanceler prestes a fazer segundo resgate aos bancos. Assim, notamos a insatisfação de Nakamoto com as falhas do sistema bancário e com a intervenção estatal na economia.

Quais são as propriedades do Bitcoin em comparação às outras moedas?

Do meio para o final do livro, temos um capítulo dedicado a entender o Bitcoin sob a ótica da ciência econômica. O autor avisa no início da obra que essa parte é mais densa, especialmente para quem não tem muitos conhecimentos em economia.

Realmente o texto fica um pouco mais pesado, mas considero importante que os leitores e leitoras insistam. Além de uma discussão interessante sobre o Bitcoin ser uma moeda ou não, vemos como suas propriedades se comparam com as de outras moedas ou meios de troca.

São elas:

  • baixa dependência de bancos (atualmente você precisa usar dinheiro tradicional para adquirir bitcoins — o que depende de uma transferência bancária ou pagamento de boleto —, mas num mundo em que todos usam bitcoins isso não seria necessário);
  • durabilidade da moeda (não é possível rasgar um bitcoin porque ele não existe fisicamente — por ser uma moeda virtual, sua preservação depende da internet e da eletricidade);
  • escassez (como o número de bitcoins em circulação chegará a um limite de 21 milhões, não haverá a possibilidade de emitir mais moeda indefinidamente, medida que tenderia a depreciar o valor do dinheiro — ao mesmo tempo, acredita-se que a demanda por bitcoins continuará a aumentar, fazendo com que valham cada vez mais);
  • reserva de valor (como os bitcoins são bens escassos, seu valor tende a se preservar com o tempo, e possivelmente aumentar);
  • divisibilidade (podemos transacionar frações de bitcoins para a movimentação de pequenos valores, assim como usamos centavos de reais);
  • baixa liquidez (o Bitcoin ainda não é amplamente utilizado como as moedas tradicionais — nem tudo o que você consome aceitará pagamento em bitcoins);
  • baixos custos de transação.

Como tudo isso se relaciona à ideia de liberdade monetária?

Deixo agora as seguintes perguntas como reflexão:

  • Se os brasileiros decidissem que o dólar é a melhor moeda para fazer transações no Brasil, seria possível que ele substituísse o real?
  • É possível que várias moedas coexistam dentro de um país?
  • O Bitcoin (ou outra criptomoeda) representa uma alternativa às moedas estatais?

Todas essas perguntas nos fazem pensar na proposta de que os indivíduos deveriam poder escolher a moeda que querem usar — o conceito de liberdade monetária.

Fernando Ulrich acredita que o Bitcoin veio para ficar, mas não como substituto de moedas tradicionais vigentes. Seria algo como uma moeda complementar.

Desde 2014, quando o livro foi publicado, houve quedas bem fortes como a do final de 2017/início de 2018, empresas de criptomoedas (exchanges) tiveram problemas sérios de segurança, a movimentação do preço continua oscilando bastante…

Apesar de tudo isso, o Bitcoin continua aí, contando inclusive com atualizações para melhorar a eficiência da rede. Só o tempo dirá quando — e se — seu futuro promissor vai se concretizar.

O livro está disponível para download em PDF gratuitamente no site do Instituto Mises Brasil.

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