Economia no Cotidiano
Em Economia no Cotidiano, Alexandre Schwartsman escreve de forma acessível para mostrar que há, sim, relação entre a macroeconomia (estudo mais abrangente de uma economia, em geral de uma região ou país) e a vida das pessoas.
Se você quer conhecer o essencial sobre inflação, PIB, dívidas, contas públicas e comércio exterior, certamente vai gostar da leitura de Economia no Cotidiano. O livro é bastante rápido e não tem enrolação justamente porque mostra os conceitos econômicos que podemos de alguma forma enxergar no dia a dia.
São cinco capítulos bem tranquilos de ler, então pra este post eu separei um ponto interessante de cada. Inclusive, no Twitter eu publiquei um resumo de cada capítulo (link abaixo).
Vamos para a resenha!
Núcleo da inflação
A inflação, que o autor define como a “elevação geral e persistente dos preços numa dada economia”, também pode ser pensada como uma métrica de perda do poder de compra das pessoas (se no geral as coisas custam mais, o dinheiro vale menos).
Na atual lógica que predomina entre os bancos centrais pelo mundo, é preciso trabalhar com metas de inflação e acompanhar esse indicador, tomando medidas (fixação da taxa básica de juros, por exemplo) para que não saia do controle.
No Brasil, a medida oficial de inflação é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Todos os meses ele examina como foi a variação dos preços de centenas de produtos e serviços. Acontece que cada item tem um peso diferente.
Por exemplo, enquanto o conserto de automóvel tem peso de 1,6802% no IPCA, a alface tem 0,1048% (Tabela 7060 IPCA).
Ou seja, já que alguns produtos ou serviços têm peso maior que outros, podemos ter distorções no cálculo, o que nos traz ao núcleo da inflação. Ele consiste basicamente em desconsiderar alimentos e preços que o governo consiga controlar de alguma forma.
Assim, busca-se eliminar ruídos pontuais de itens cujos preços variam bastante e situações de possível interferência política.
Medida do desemprego
A medida do desemprego certamente ajuda a dar uma ideia sobre a situação do mercado de trabalho, mas é importante saber que se trata de uma pesquisa e tem suas imperfeições.
No Brasil, por exemplo, para calcularmos a taxa de desemprego, precisamos basicamente de dois números:
- força de trabalho [pessoas em idade de trabalhar (acima de 14 anos, segundo o IBGE) que trabalham ou buscaram trabalho na semana da pesquisa];
- número de desocupados (pessoas dentro da força de trabalho que não conseguem emprego).
A taxa de desemprego será o número de pessoas desocupadas dividido pela força de trabalho.
Mas e as pessoas que podem trabalhar mas por algum motivo não estão procurando emprego? E as pessoas que pertencem à força de trabalho mas trabalham apenas durante uma pequena fração do tempo que poderiam?
Esses são apenas alguns números que não estão refletidos na taxa de desemprego oficial.
Inflação e alívio da dívida
Quando um governo precisa de mais dinheiro, uma das formas de conseguir é emitindo dívida na forma de títulos do Tesouro.
Há muitas modalidades de títulos, mas para simplificar o raciocínio vamos pensar numa espécie de Tesouro Selic, em que pessoas e outras instituições (empresas, fundos, bancos etc.) podem investir com o objetivo de receber no futuro o valor investido acrescido de juros correspondentes à taxa Selic.
Acontece que o mesmo governo que emite dívida via títulos do Tesouro, tem a capacidade de fixar a taxa Selic (inclusive em patamares muito baixos) por meio do Banco Central.
Ou seja, se o Adamastor comprou um título desse “Tesouro Selic” do qual estamos falando quando a Selic estava em 5% ao ano e depois viu o Banco Central baixar a Selic gradativamente para 1%, na prática, o que aconteceu foi que o governo aliviou a pressão sobre a dívida que tinha com Adamastor.
A questão é que manter a Selic excessivamente baixa pode ter efeitos negativos na economia, como o aumento da inflação.
Agora imagine a situação do Adamastor se a inflação que a princípio estava baixa e controlada subisse para 6% ao ano. Ele, que de início receberia 5% de juros, passou a receber 1%, sem contar que a inflação de 6% passou a corroer o seu poder de compra. O investimento do Adamastor rende 1% ao ano, mas o preço dos produtos e serviços cresce num percentual muito maior.
Efetivamente, Adamastor está pagando para emprestar dinheiro ao governo.
Vantagem absoluta e vantagem comparativa
Pessoalmente, achei que os conceitos de vantagem absoluta e vantagem comparativa mereciam uma explicação mais detalhada. Entendo que o autor preferiu não usar de matemática em algumas partes para manter a simplicidade, mas aqui eu queria deixar um exemplo que vi no canal do Jacob Clifford.
Suponha o seguinte cenário:
Os Estados Unidos conseguem produzir 10.000 aviões ou 30.000 brinquedos.
A China consegue produzir 4.000 aviões ou 20.000 brinquedos.
Tanto em termos de aviões quanto em termos de brinquedos os Estados Unidos são mais produtivos, portanto têm uma vantagem absoluta.
Mas e se os Estados Unidos tivessem que escolher se vai se dedicar a produzir aviões ou brinquedos, qual deles deveria escolher? E a China?
Para descobrir em qual bem cada país deve se especializar, usamos o conceito de vantagem comparativa.
Estados Unidos
Para produzir 10.000 aviões, deixa-se de produzir 30.000 brinquedos.
Ou seja, para produzir 1 avião, deixa-se de produzir 3 brinquedos (dizemos que o custo de oportunidade para produzir 1 avião é de 3 brinquedos, ou seja, ao produzir 1 avião, o país está abrindo mão de produzir 3 brinquedos)
Para produzir 30.000 brinquedos, deixa-se de produzir 10.000 aviões.
Ou seja, o custo de oportunidade de produzir 1 brinquedo é de 1/3 avião.
China
Para produzir 4.000 aviões, deixa-se de produzir 20.000 brinquedos. O custo de oportunidade de produzir 1 avião é de 5 brinquedos.
O custo de oportunidade de produzir 1 brinquedos é de 1/5 avião.
Agora vamos ver qual país deve se especializar em produzir aviões. Para isso, olhamos qual tem o menor custo de oportunidade comparado ao outro.
Como o custo de oportunidade para os Estados Unidos produzirem 1 avião (custo de 3 brinquedos) é menor que o da China (custo de 5 brinquedos), os Estados Unidos deveriam se especializar em produzir aviões.
Como o custo de oportunidade para a China produzir 1 brinquedo (custo de 1/5 avião) é menor que o dos Estados Unidos (custo de 1/3 avião), a China deveria se especializar em produzir brinquedos.
Ativos financeiros são promessas de pagamento
Títulos públicos (exemplo: títulos do Tesouro Direto como o Tesouro Selic), títulos privados (debêntures), ações e outros ativos financeiros nada mais são que promessas de pagamento.
Para os títulos públicos e privados é mais fácil enxergar dessa forma porque são dívidas. Mas ações também são promessas de pagamento — no caso, promessa de pagamento de parte dos lucros de uma empresa.
Boa definição para ativos financeiros, não é?
Então essa foi mais uma resenha, pessoal. O livro realmente não tem a intenção de se aprofundar, até porque não é a proposta da Coleção Cotidiano da Editora Contexto. Mas traz reflexões importantes, especialmente sobre a leitura dos dados de inflação e do PIB, além de destacar a importância de uma economia aberta ao comércio internacional.
DISCLAIMER LINKS AFILIADOS: o Leituras do Trader (leiturasdotrader.com) participa de plataformas/programas de afiliados como Programa de Associados Amazon e Hotmart. Ao adquirir livros e outros produtos pelos links afiliados deste site, o Leituras do Trader receberá uma comissão. Isso é uma forma de contribuir para o Leituras do Trader e não custará nenhum extra a você.
ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE: os textos deste site não representam recomendações de compra nem de venda de ativos financeiros. As ideias divulgadas aqui têm fins educacionais/informativos. O site Leituras do Trader e seus administradores não se responsabilizam pelas decisões de investimento/especulação de seus leitores.