Os Axiomas de Zurique

Os Axiomas de Zurique

Quer entender o tipo de mentalidade que leva os especuladores ao sucesso e como eles lidam com os riscos para ficarem ricos? É isso que Max Gunther (1926 – 1998) nos mostra em Os Axiomas de Zurique.

As ideias do livro, publicado em 1985, continuam bastante válidas — e um tanto quanto polêmicas. Isso porque o autor considera qualquer tipo de operação que vise o lucro como uma espécie de aposta, sendo que operar na bolsa é muito diferente de jogar em um cassino, por exemplo.

Mas isso não nos impede de tirar bons ensinamentos do livro. Gunther mostra exemplos de especulações — tanto as que deram certo quanto as que não funcionaram —, além de mencionar conversas e certos hábitos de grandes especuladores como:

  • Gerald Loeb
  • Jesse Livermore
  • Jean Paul Getty
  • Martin Schwartz
  • Susan Garner

É isso mesmo — sem meias palavras, o autor busca mostrar como lidar com situações em que você pode arriscar dinheiro para ganhar mais dinheiro, seja qual for o ativo (ações, ouro, obras de arte etc.). Tudo sempre com cautela, para que os ganhos sejam maiores que as perdas.

Essas regras/recomendações, compiladas como 12 grandes axiomas e 16 axiomas menores, foram reunidas de acordo com os ensinamentos do pai de Gunther, um banqueiro suíço chamado Franz Heinrich, também conhecido como Frank Henry.

Frank Henry fazia parte de uma espécie de clube de suíços que operavam em Wall Street e se encontravam para conversar, entre outras coisas, sobre riscos.

Acontece que eles ainda não tinham os axiomas classificados, até Max Gunther pedir para o pai lhe ensinar como “apostar para ganhar”.

Frank Henry conversou com os outros suíços, que começaram a se questionar sobre as ideias que os tornavam bem-sucedidos, o que deu origem à lista de axiomas que vemos no livro.

1. Risco

Segurança é bom, mas correr riscos também deve ser encarado como uma parte interessante da vida — algo relacionado a viver uma aventura.

Não se trata de encarar riscos simplesmente para se expor a preocupações.

Trata-se de enfrentar o risco para superá-lo. Trata-se de aceitar as preocupações para ter acesso a certos prazeres da vida, como viver um grande amor, vencer um jogo ou fazer uma negociação vitoriosa.

Como diria Jesse Livermore, entre ter preocupações e ser pobre, é melhor aceitar as preocupações.

Investimentos mais conservadores não têm desafios e podem ficar praticamente empatados com a inflação. Se o risco for baixo, os retornos também serão baixos.

Todo investimento é especulação. A única diferença é que alguns admitem isso, e outros não.
Gerald Loeb

2. Ganância

Pode parecer estranho, mas é reduzindo a ganância que aumentamos a chance de ficarmos ricos. Aqui, o autor fala em ganância no sentido de querer mais que aquilo que planejava ganhar, de perder o controle da hora de parar.

Ela pode ser a grande responsável pelas suas perdas, então é preciso ter autocontrole para dominá-la.

Períodos breves de ganhos modestos são mais frequentes que períodos longos de altos ganhos. Sendo assim, quando estiver com um bom lucro, não fique esperando um suposto pico e saia da operação.

Vai ter vezes em que o período de ganhos vai continuar depois de você ter saído. Nesses casos, não é para se lamentar, mas sim ficar feliz que protegeu o lucro e que colocou o dinheiro no bolso.

3. Esperança

A ideia aqui é não ficar esperando que uma operação venha a dar lucro depois que se mostrou perdedora. Se perceber que não há indícios de que vai melhorar, tome uma atitude o quanto antes.

O autor afirma que saber o que fazer em situações difíceis é uma das competências mais importantes de um investidor/especulador. Portanto, “aceite pequenas perdas para se proteger das grandes”.

Tenha atenção também às especulações com pouca liquidez, já que será difícil se desfazer da sua posição quando as coisas piorarem.

Vou lhe dizer como me tornei vencedor: aprendi a perder.
Martin Schwartz
Ficar preso numa operação perdedora deve ser a maior dor que o dinheiro é capaz de provocar.
Susan Garner

4. Previsões

Ninguém tem como prever o futuro, então não dê atenção a previsões e não confie em especialistas que tenham um ar de profeta ou de oráculo financeiro.

É fácil ser profeta. Você faz 25 previsões, e depois só comenta as que deram certo.
Dr. Theodore Levitt

5. Padrões

Não pense que existe ordem em um mercado em que ela não existe. Simplesmente não há fórmula mágicas.

Se há risco envolvido, há caos. Desconfie de conselheiros que afirmam enxergar alguma ordem onde ela não existe, mesmo que tenham um currículo extraordinário ou pertençam a uma instituição com anos de mercado.

Fuja também de livros que prometem deixar a pessoa rica de um dia para o outro.

O que existe são inúmeras circunstâncias financeiras e uma boa parcela de sorte para as especulações darem certo.

Portanto, alguns dos passos que ficam aqui são:

  • estude muito bem a especulação com a qual você quer ganhar dinheiro;
  • entenda quando as probabilidades estiverem a seu favor para entrar na operação;
  • tenha em mente que o acaso também tem papel importante;
  • não caia na ilusão de que é possível encontrar ordem onde há caos (ilusão de ordem).

Gunther chama o 5º Axioma de Axioma Imperial, porque é capaz fazer de você um especulador mais esperto, além de prevenir grandes estragos.

6. Mobilidade

Se a sua intenção é ganhar dinheiro, não se apegue a um objeto, casa, bairro, empresa etc. As raízes impedem que você aproveite oportunidades.

Para se ter uma ideia, algo que prejudica bastante a sua eficiência como especulador é ficar esperando que um investimento dê lucro enquanto aparece uma chance de colocar o dinheiro em outro com maior rentabilidade.

Por causa de algum tipo de apego, você talvez esteja deixando de ganhar muito mais.

7. Intuição

Na sua vida como especulador ou especuladora, os palpites virão à sua mente. Cabe a você analisar com atenção redobrada se eles fazem sentido ou não.

Se vierem absolutamente do nada, provavelmente não terão nenhum significado.

Contudo, se eles tiverem um histórico, se surgirem como uma espécie de resumo de todas as informações que você tem acumuladas ou se forem baseados em fatos, talvez valha a pena considerá-los.

É fácil sentirmos uma intuição de que um palpite está certo, mas devemos ser céticos e ignorá-lo quando não há nada que o sustente. A intuição faz parte da especulação, mas não se pode confiar cegamente nela.

8. Religião e ocultismo

Não cabe aos Axiomas de Zurique dizer se Deus existe ou não. O que o 8º Grande Axioma explica é que confiar suas especulações ao sobrenatural é o equivalente a acreditar em previsões ou ilusões de ordem.

Logo, esqueça os conselhos financeiros que a astrologia, tarô e outros ocultismos podem oferecer. Eles acertam uma vez ou outra, assim como palpites.

Gunther diz que o maior perigo da religião e do ocultismo é que eles deixam a pessoa em um estado de despreocupação, e abaixar a guarda demais talvez leve você a perder tudo.

Valorize o seu dinheiro. Nesse sentido, considere que está sozinho em relação à tomada de decisão e apóie-se no seu próprio conhecimento.

9. Otimismo e pessimismo

O otimismo gera uma atitude positiva, mas um pouco de pessimismo é capaz de te ajudar a se preparar para lidar com o pior. Isso sim é confiança, e não simplesmente esperar que o melhor aconteça.

Sempre que for entrar em um negócio/especulação, determine como será a saída se as coisas não forem como o esperado. Não pense apenas em como será incrível receber o dinheiro se tudo der certo.

Mais uma vez precisamos ter o controle emocional — quando sentirmos que estamos otimistas demais, é preciso avaliar se esse sentimento se justifica, se pode ser comprovado com fatos.

10. Consenso

Nem sempre a maioria está certa, então, tire as suas próprias conclusões sobre certas afirmações financeiras.

A maioria não discute se os clichês do mercado financeiro são verdadeiros ou não — simplesmente aceita. Por outro lado, constatamos que essas pessoas dificilmente atingiram a riqueza.

Na bolsa de valores, por exemplo, uma das formas de ganhar dinheiro é comprando na baixa e vendendo na alta. Ao participar das especulações da moda, você pode estar comprando na alta e correndo o risco de ver seu dinheiro derreter.

Tome uma decisão se achar que ela é a melhor, e não apenas porque a maioria diz que ela é a melhor. Mas lembre-se que a maioria nem sempre está errada — examine a situação e jamais aja de forma impensada.

Não existe praticamente nada que tenha sido afirmado por um sábio e não tenha sido contraditado por outro.
René Descartes

11. Teimosia

Se você perdeu dinheiro em uma especulação, não pense que ela te deve alguma coisa e que você precisa usar uma nova estratégia no mesmo ativo para se vingar dele. Isso tem tudo para dar errado.

Perseverar em algo que já não deu certo vai te impedir de investir em oportunidades melhores. Em vez de escolher o ativo por teimosia, escolha de forma racional. Preze pela sua liberdade de escolher bons investimentos, e não de ficar preso ou presa em uma mesma especulação por pura obsessão.

Sobre o preço médio

A teimosia também está em insistir em métodos errados, sendo o preço médio um dos piores.

Funciona assim:

  • Eu compro 1.000 ações da empresa X por R$15,00, custando o total de R$15.000,00 (não vamos considerar corretagem, emolumentos e outras taxas para facilitar);
  • As ações da empresa X desvalorizam bastante e passam a custar R$5,00, fazendo com que eu perca R$10.000,00 (minha posição foi de R$15.000,00 para R$5.000,00);
  • Eu compro mais 1.000 ações da empresa X por R$5,00, totalizando R$5.000,00;
  • Eu fico com 2.000 ações que me custaram R$20.000,00. O preço médio por ação fica R$10,00.

A atitude de fazer preço médio gera uma sensação de que você não pagou tanto pela ação, mas esse método não passa de uma ilusão.

Repare também que nada mudou o fato de eu ter ficado com um prejuízo de R$10.000,00 com a queda no nosso exemplo.

Por fim, uma queda tão expressiva pode significar que esse ativo perdeu a atratividade e seria melhor se livrar dele, e não comprar ainda mais.

12. Planejamento

O 12º Axioma diz que quando fazemos um planejamento financeiro a longo prazo, não devemos ficar totalmente presos a ele.

O contexto social/econômico/político pode mudar muito daqui a 20, 30, 40 anos, então, temos que ter em mente que, em um futuro distante, as coisas muito provavelmente não vão sair como o esperado. É preciso ter uma certa flexibilidade para ajustar o plano se for necessário.

Lembre-se dos Axiomas anteriores: o futuro não está sob controle (4º Axioma) e é bom não fincar raízes (6º Axioma).

Portanto, ao fazer um planejamento de longo prazo, dê mais importância ao estudo. É o conhecimento que vai te ajudar a escolher os melhores investimentos e será um dos maiores responsáveis por manter você dentro da intensão de alcançar a riqueza.


O que achou dos Axiomas de Zurique? Confesso que, quando li, mudei completamente a minha mentalidade em relação à renda variável. Apesar de não concordar com todas as ideias do autor, devo dizer que essa leitura foi fundamental para eu começar a operar na bolsa de valores.

Gostou do post? Então siga-me no Skoob para ficar por dentro do que eu leio e saber quais podem ser as próximas resenhas aqui do “Leituras do Trader”.

DISCLAIMER SOBRE SEÇÕES COM DIVULGAÇÃO DE PRODUTOS DA AMAZON: o conteúdo exibido neste site é originado da Amazon. Este conteúdo é exibido como se encontra (‘as is’) e poderá ser modificado ou excluído a qualquer momento.
DISCLAIMER LINKS AFILIADOS: o Leituras do Trader (leiturasdotrader.com) participa de plataformas/programas de afiliados como Programa de Associados Amazon e Hotmart. Ao adquirir livros e outros produtos pelos links afiliados deste site, o Leituras do Trader receberá uma comissão. Isso é uma forma de contribuir para o Leituras do Trader e não custará nenhum extra a você.
ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE: os textos deste site não representam recomendações de compra nem de venda de ativos financeiros. As ideias divulgadas aqui têm fins educacionais/informativos. O site Leituras do Trader e seus administradores não se responsabilizam pelas decisões de investimento/especulação de seus leitores.