A Psicologia Financeira
A Psicologia Financeira traz lições sensatas para ter bons hábitos com o dinheiro e apresenta ideias que revigoram a literatura de investimento e finanças.
O autor Morgan Housel conta histórias tão interessantes e explica suas ideias de um jeito tão descomplicado que eu digo que essa foi minha melhor leitura do ano. Agora entendo por que A Psicologia Financeira está entre os mais vendidos.
Eu ficaria elogiando esse livro por mais alguns parágrafos, mas não quero me estender. Inclusive, fiz um resumo dele no Twitter (clique abaixo para ver a sequência de posts).
O foco do livro é mostrar que não é preciso ser um gênio para ter sucesso nos investimentos, mas sim ter atenção ao seu comportamento com o dinheiro. E como comportamento e trading também têm tudo a ver, destaquei alguns pontos que vão um pouco além do resumo que postei no Twitter.
Então vamos a eles!
Nenhum simulador de trades recria o medo e a incerteza genuínos
Cada um tem uma visão de mundo diferente. Vários fatores têm influência nisso, como o local onde a pessoa vive, seus valores, a situação da economia e suas referências.
Ou seja, as suas experiências terão grande influência nas suas decisões de investimento. É legal estudar e ouvir o que os outros têm a dizer, mas isso não é suficiente para ganhar experiência.
Nada substitui a vivência para aprender algo de verdade. Isso vale para o simulador na plataforma de negociação. Ele é bom para o iniciante aprender a entrar e sair de trades, colocação de stop, movimentação do gráfico etc., mas nunca vai trazer a sensação que é ganhar ou perder dinheiro de verdade.
Evite se comparar com os outros
Seguindo esse raciocínio de que as pessoas são diferentes, temos que ter cuidado quando nos comparamos com os outros. Uma coisa é enxergar o sucesso de alguém como motivação para alcançar o seu, outra coisa é querer ter todo o dinheiro que aquela pessoa tem.
Temos objetivos, incentivos e personalidades distintas. Talvez (muito provavelmente) eu nunca alcance a fortuna do Mark Minervini, mas não devo me frustrar por isso. Tenho que ter em mente o que é suficiente pra mim e que não preciso ter um patrimônio maior que alguns milionários ou bilionários para ser feliz.
Então quando você vir aquele pessoal que posta resultado de trade ou DARF nas redes sociais, tente usar aquilo como estímulo e não como métrica de comparação.
Não é preciso acertar o tempo todo para ganhar dinheiro
O autor defende que é normal que alguns investimentos não deem certo. Ao mesmo tempo, é possível que uns poucos deem muito certo, o que acaba compensando.
Ele até diz que Warren Buffett teve 400 ou 500 ações diferentes durante a vida, mas que a maior parte do dinheiro que ganhou veio de dez delas.
No trading a gente lida muito com isso porque precisamos ter clareza nas nossas mentes de que o loss é inevitável. Então o que precisamos é ganhar mais quando acertar do que perder quando errar. Assim podemos ganhar dinheiro mesmo errando mais que acertando (explico isso com mais detalhes no texto sobre risco:retorno).
Presumimos a fortuna dos outros de acordo com o que vemos
Isso é algo muito curioso da nossa cabeça. Se a gente vê alguém num carrão, logo acha que é uma pessoa com muito dinheiro. Mas aquele carro não diz nada sobre os hábitos de poupar dinheiro dela e muito menos sobre quanto ela tem na conta ou investido.
Aliás, pode ser que ela tenha se afundado em dívidas para conseguir o veículo ou até que o carro seja alugado.
Portanto cuidado com os “traders ostentação” que aparecem por aí exibindo lanchas, carros e outros bens de alto valor prometendo ensinar um método infalível de ficar rico negociando na bolsa.
É preferível ser razoável do que ser friamente racional
Você pode até tentar ser totalmente metódico e basear seus investimentos em fórmulas matemáticas e modelos estatísticos. Mas sabemos que as emoções têm grande influência nas decisões, sem falar nos vieses cognitivos como os que vimos em Rápido e Devagar e Previsivelmente Irracional.
Sendo assim, não faz sentido tentar ser 100% racional o tempo todo. Por que escolher uma ação indicada por um cálculo se aquele investimento te tira o sono? Caso não tenha nenhum interesse por aquele papel, pode ser que se desfaça dele e amargue um prejuízo na primeira queda que presenciar.
A ideia aqui é ser mais realista e procurar uma estratégia que funcione para você, algo que você consiga seguir com consistência e que combine com o seu perfil.
Bolhas e os diferentes horizontes de tempo de investimentos
Já falamos bastante de bolhas aqui no site — na resenha do livro Crash —, mas como é um dos meus temas favoritos, não poderia deixar passar.
O Morgan Housel tem uma tese que ajuda a explicar a formação das chamadas manias. Escrevo “ajuda” porque são muitos os fatores que dão origem a esses fenômenos cheios de complexidade.
Pois bem, o autor descreve que à medida que o preço de um ativo vai subindo consistentemente, ele atrai pessoas interessadas em fazer trades de curto prazo. O aumento da força compradora acaba atraindo mais traders com esse objetivo de lucro a curto prazo.
Os traders não estão muito preocupados com o preço nas alturas porque pretendem sair da operação rapidamente. Mas e os investidores de longo prazo?
Numa bolha, em algum momento, a maioria dos investidores daquele ativo será de traders de curto prazo em vez de investidores de longo prazo.
Com isso, os investidores de longo prazo começam a repensar se o horizonte longo faz sentido. Inicialmente a intenção era segurar o ativo por mais tempo, mas agora querem é se desfazer dele o quanto antes. Ou seja, mudam a estratégia.
Conforme mais traders entram, mais apertados vão ficando os horizontes de tempo dos investidores. E é aí que as coisas começam a degringolar, como aconteceu nos anos 2000 com a bolha das pontocom ou em 2008 com a bolha imobiliária nos EUA.
E assim chegamos ao fim de mais uma resenha. No caso, de um livro que me surpreendeu positivamente por falar de assuntos complexos sem complicação. Texto bom demais de ler, com ótima tradução.
Está esperando o que para ler esse best-seller?
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