Guia Suno Dividendos

Guia Suno Dividendos

Conheça a visão de Tiago Reis e Jean Tosetto sobre estratégias voltadas para a geração de renda passiva com base em dividendos.

Quando adquirimos ações de uma empresa, estamos pura e simplesmente comprando uma participação no negócio. Dessa forma, já que nos tornamos sócios da organização, é natural que parte dos lucros sejam repassados para nós.

Essa remuneração, conhecida como dividendos, é uma excelente alternativa de renda passiva. No Brasil, os dividendos são isentos de imposto de renda, mas a distribuição de lucros também pode ocorrer na forma de juros sobre capital próprio (JCP). Nesse caso, a tributação é de 15%, geralmente já recolhidos antes de chegar ao acionista.

Independentemente da modalidade, com o devido planejamento e escolha de ações de boas empresas, esses proventos podem ser usados para compor a sua aposentadoria.

Mas, para fazer essa seleção, não basta procurar quais papéis fornecem os maiores dividendos proporcionalmente ao preço da ação. No Guia Suno Dividendos, Tiago Reis e Jean Tosetto explicam diversos fatores que devemos levar em consideração, alguns dos quais você confere a seguir.

São as empresas mais consolidadas — ou que operam num setor da economia que não requer reinvestimentos constantes — as que tendem a pagar mais proventos.

1. Datas pertinentes para dividendos

Existem três datas relevantes para os investidores interessados em receber dividendos de determinada ação. Explicamos cada uma delas a seguir.

Data de anúncio

É quando a empresa anuncia a distribuição de dividendos por meio de um fato relevante.

Data ex-dividendos

O fato relevante sobre a distribuição de dividendos deve indicar a data limite para ter as ações compradas se quiser ter o direito de receber os dividendos, conhecida como data com.

No pregão seguinte a esse dia, temos a data ex (também chamada data ex-dividendos ou data ex-juros sobre capital próprio, se for o caso), em que o preço de abertura da ação será ajustado para descontar o valor do dividendo. Sendo assim, não se assuste!

Data de pagamento

É quando os dividendos finalmente são depositados na conta dos acionistas que tinham aquele papel até o dia da data com (inclusive).

2. Indicadores fundamentalistas

Se quisermos receber dividendos ao longo de anos e anos, é crucial investirmos em empresas sólidas. E uma das maneiras de fazermos essa avaliação é analisando os seguintes indicadores fundamentalistas.

Dividend Yield

O dividend yield (DY) é a relação entre a soma de proventos distribuídos por ação dentro de um período determinado (geralmente os 12 meses anteriores à cotação em questão) e o preço de uma ação.

Suponha que a ação ITSA4 tenha distribuído R$ 1,05 nos últimos 12 meses, e que no último pregão ela tenha fechado ao preço de R$ 13,00. Seu dividend yield seria de aproximadamente 8%, porque 1,05 / 13 = 0,08 = 8%.

Vale lembrar que também podemos calcular o dividend yield individualmente, segundo o preço que o investidor comprou as ações, e não necessariamente usando a cotação atual. Se no exemplo acima você tivesse adquirido ITSA4 um pouco antes, a R$ 11,00, o seu dividend yield para o ativo já seria de 1,05 / 11 = 0,095 = 9,5% naquele ano.

Dividend Payout

O dividend payout (DP) é a relação entre os proventos distribuídos por ação e o lucro por ação (LPA). Esse indicador nada mais é que a parte do lucro que a empresa devolve para os acionistas.

Se a ação de ABEV3 distribuiu R$ 0,48 por ação nos últimos 12 meses e no mesmo período teve um lucro líquido de R$ 11.170.600.000,00, sendo que existem 15.727.500.000 ações da empresa, a conta do DP fica:
0,48 / (11.170.600.000 / 15.727.500.000) = 0,48 / 0,71 = 0,68 = 68%

Atenção às empresas com dividend payout acima de 100% — isso quer dizer que ela está distribuindo dividendos além do que consegue lucrar. Persistir nessa política só aumentará a dívida da organização e diminuirá as chances de ela conseguir manter a distribuição de bons dividendos por muito tempo.

Outro aspecto a se levar em conta é que, para continuar crescendo, é importante que a empresa invista no próprio negócio. Por outro lado, se todo o lucro for para os acionistas, não haverá como dedicar uma parte para o seu desenvolvimento.

É claro que isso varia de negócio para negócio, afinal, há empresas que conseguem evoluir mesmo sem receber reinvestimentos.

Payout ratio

O payout ratio é um pouco diferente do dividend payout, porque não faz os cálculos por ação. O payout ratio é o total de dividendos distribuídos em um período dividido pelo lucro líquido nesse mesmo intervalo de tempo.

Por exemplo: vamos supor que EGIE3 tenha distribuído R$ 2.273.000.000,00 em dividendos e JCP aos seus acionistas em determinado ano. Se nesses mesmos 12 meses, a empresa teve lucro líquido de R$ 2.315.000.000,00, o payout ratio fica 2.273.000.000 / 2.315.000.000 = 0,98 = 98%.

Os autores recomendam que o investidor procure empresas com payout ratio menor que 60%.

Dívida líquida/Patrimônio líquido

Basicamente, a dívida líquida é uma despesa que precisa ser quitada, enquanto o patrimônio líquido é o capital da empresa que pertence aos sócios/acionistas. A relação entre eles ajuda a indicar se a companhia está muito endividada ou não.

Devemos evitar ações com a relação entre dívida líquida e patrimônio líquido de 100%. Para mais segurança, prefira os investimentos em que esse indicador esteja abaixo de 50%.

Dívida líquida/EBITDA

O Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (EBITDA) equivale aos lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

A relação entre dívida líquida e EBITDA é mais um indicador sobre o endividamento da empresa, por isso também é importante para o investidor de longo prazo. Segundo os autores, esse cálculo não deve ser maior que 3, sendo que o ideal é que ele não passe de 2.

Caixa

Avaliar a situação financeira de uma empresa por meio do valor em caixa é outro fator essencial, já que uma companhia com fluxo de caixa negativo e que distribui dividendos continuamente pode ser mau sinal.

Crescimento do lucro

Uma forma que o livro cita para avaliar uma potencial taxa de crescimento dos dividendos é dada pela seguinte fórmula:

G = ROE x (1 – Payout)

G equivale a “Growth”, ou crescimento, Return on Equity (ROE) é o retorno sobre o patrimônio líquido e o Payout, como já vimos, é a parte do lucro que vai para os acionistas.

Se analisarmos B3SA3, por exemplo, ao longo de 2018 o ROE foi 8% e o Payout foi de 69%. Pela fórmula, temos:

G = 8% x (1 – 69%) = 0,08 x (1 – 0,69) = 0,08 x 0,31 = 0,0248 = 2,5%

Isso mostra que uma estimativa (muitos fatores podem influenciar, então isso é realmente uma projeção) para o crescimento dos lucros da empresa — e, consequentemente, o aumento do dividend yield — seria de 2,5% ao ano para os próximos anos.

3. Contexto de mercado

Vejamos agora outros fatores que devemos levar em conta sobre o contexto em que as empresas estão inseridas.

Empresas concorrentes

Se a empresa da qual somos acionistas passa a perder mercado para uma concorrente, precisamos estar cientes que isso pode afetar o negócio, sua lucratividade e, consequentemente, a distribuição de dividendos. Por isso, devemos ter noção das suas vantagens competitivas e monitorar a evolução do ambiente de negócios.

Setor de atuação

Alguns negócios sofrem mais em tempos de crise do que outros.

Os setores cíclicos são aqueles que dependem mais de um bom desempenho da economia para lucrar. As empresas que atuam neles, geralmente, têm produtos ou serviços que os clientes dificilmente consumiriam em tempos de crise, como carros, imóveis e viagens.

Já os setores não cíclicos costumam ser menos afetados durante uma retração econômica, pois envolvem soluções ou artigos mais indispensáveis para o público. É o caso de bancos e empresas relacionadas a energia elétrica, bebidas, alimentos, saúde, entre outros.

4. Reinvestimento dos dividendos

Os autores fazem uma comparação interessante entre ações e imóveis.

Com as ações você pode usar os dividendos para comprar novos papéis da mesma empresa, aumentando sua posição naquele ativo e recebendo cada vez mais dividendos. Já com os imóveis, não é possível — ou pelo menos é muito difícil — usar o dinheiro que recebe dos aluguéis para aumentar o valor do imóvel e receber um aluguel mais caro por isso.

Com o reinvestimento dos dividendos, usamos o princípio dos juros compostos ao nosso favor.

5. Leitura de balanço

Balanço patrimonial. Ativos circulantes. Ativos não circulantes. Passivos. Patrimônio líquido. Capital social. Demonstração de resultado do exercício. Fluxo de caixa.

Por mais que pareçam complicados, esses e muitos outros termos de contabilidade devem fazer parte do conhecimento do investidor. O livro detalha o que eles significam e apresenta exemplos para facilitar o entendimento.

Mesmo que não seja de forma profunda, é importante saber interpretar os resultados divulgados pelas empresas ou mesmo comparar suas impressões com a opinião de analistas e outros profissionais do mercado de capitais.

6. Diversificação

Há quem divida o portfólio entre partes iguais de diferentes classes de ativos (exemplo: 33% em ações, 33% em fundos imobiliários e 33% em renda fixa); outros fazem reservas em renda fixa para aproveitar oportunidades e aportar em ações; sem falar naqueles que investem apenas em renda variável, dividindo a carteira entre ações nacionais, internacionais e fundos imobiliários…

Aliás, os fundos imobiliários são uma ótima opção para quem pretende receber renda passiva, já que eles em geral pagam proventos mensalmente aos cotistas.

Fato é que os autores deixam claro que não existe receita para o número ideal de ações em uma carteira bem diversificada.

Saber diversificar na Bolsa de Valores é encontrar a razão que combina a diminuição de riscos com a preservação dos rendimentos e o conhecimento sobre as empresas investidas.

7. Métodos de grandes investidores brasileiros

O livro dedica um capítulo para explicar as estratégias de duas referências em investimentos voltados para dividendos: Décio Bazin (1931 – 2003) e Luiz Barsi Filho.

Décio Bazin

Listamos abaixo os principais pontos do método do Bazin:

  • o dividend yield deve ser de pelo menos 6%, ou seja, o preço da ação tem que ser menor que o somatório de proventos distribuídos por ação nos 12 meses anteriores vezes 16,67 (entenda esta conta a seguir);
  • não escolher empresas muito endividadas;
  • vender as ações de uma empresa se aparecerem notícias ruins sobre ela que afetem seu desempenho;
  • analisar se a empresa distribui dividendos constantemente ao longo dos anos, mantendo alguma regularidade nos valores.

Conta dos 16,67:
Se o dividend yield deve ser maior ou igual a 6%, temos que:
dividend yield ≥ 6%
Lembrando que o dividend yield equivale ao somatório de proventos distribuídos por ação no período dividido pelo preço da ação.
Logo:
(somatório de proventos distribuídos por ação no período / preço da ação) ≥ 6 / 100
somatório de proventos distribuídos por ação no período x 100 / 6 ≥ preço da ação
preço da ação ≤ somatório de proventos distribuídos por ação no período x 16,67

Luiz Barsi Filho

Vejamos agora as ideias mais importantes que os autores atribuem ao Barsi:

  • disciplina para gastar menos do que ganha, poupar e fazer aportes mensais;
  • paciência tanto para aguardar as oportunidades quanto para ver os investimentos darem resultados expressivos;
  • racionalidade para não se desesperar quando a cotação das ações cairem demais, afinal, isso não necessariamente quer dizer que a empresa perdeu seus fundamentos;
  • ser um investidor parceiro, que conhece profundamente a empresa e compra as ações para ficar com elas durante um prazo indeterminado;
  • focar em empresas boas pagadoras de dividendos, que estejam bem estabelecidas e tenham baixo endividamento.

Por mais que seja interessante estudarmos os métodos de outros investidores, o que importa é criarmos o próprio, com base em nosso conhecimento. O final do livro enfatiza essa visão, mostrando que devemos ser autodidatas e estudar bastante até encontrar o seu modo particular de operar na bolsa.


Não posso deixar de comentar que a obra traz ótimos exemplos de boas e más escolhas que o investidor poderia ter feito, com gráficos informativos e explicações bastante didáticas.

As últimas páginas ainda recomendam o Fundamentus e outras ferramentas, além da indicação de mais livros para ajudar nos estudos e a sugestão de consultar periodicamente os sites de Relações com Investidores (RI) das empresas das quais você é acionista.

Portanto, é altamente recomendado para quem também deseja fazer aportes na bolsa com foco no longo prazo!

E aí, gostou da resenha? Então siga-me no Skoob e confira o que eu estou lendo.

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